Lei que proíbe zoos e aquários em SP é inovadora, mas ainda há muito a se fazer

De acordo com especialista, na própria cidade, ainda há o caso absurdo e recente da compra de um urso-polar para o aquário.

Desde março, está em vigor a lei que proíbe a abertura de novos zoológicos e aquários na cidade de São Paulo.

Trata-se de um avanço enorme na área de bem-estar animal. A lei também prevê que lugares os já existentes reabilitem animais com condições de serem devolvidos à natureza.

Zoológicos e aquários focados no lucro são um desserviço à fauna e à educação ambiental. Fica ainda pior quando o lugar faz shows com animais ou mesmo permite selfies e interações com os bichos.

De acordo com a Ong Proteção Animal Mundial, há aproximadamente 550 mil animais silvestres em cativeiro. “Ao autorizar legalmente e aceitar culturalmente absurdos como esses, normalizamos o sofrimento animal”, completa João Almeida, gerente de vida silvestre da organização.

Exemplos atuais são os zoológicos mostrados na série A Máfia dos Tigres, da Netflix, que exibem os bastidores horrorosos de atrações felinos nos EUA. Animais maltratados são enclausurados em ambientes minúsculos, forçados a reproduzir de qualquer maneira para venda e uso dos filhotes e, depois, sacrificados quando já não dão mais lucro.

“Não há nada de educação ambiental nisso. Crianças voltam para casa com aprendizagem e percepção péssima, de que está tudo bem manter animal silvestre preso e enjaulado a vida inteira”, enfatiza.

Vale relembrar que, quando alguém paga para visitar um lugar desses, automaticamente ajuda para que toda crueldade se perpetue. E quando publica em redes sociais fotos, sejam ela de selfies com os bichos dentro de recintos, potencializa o apoio aos maus-tratos, ao incentivar mais pessoas a visitar.

Vidas aprisionadas

Ursos com comportamentos repetitivos, felinos que andam em círculos e macacos tão apáticos e solitários que sequer saem dos lugares. Animais presos podem desenvolver automutilação, queda na imunidade e hábito de mastigar ou se machucar nas grades, entre outros. Imagine o estresse que é viver em uma cela para um guepardo, que, na natureza, chega à velocidade de 90 a 100 km/h.

Cenas tristes como essas são muito comuns nestes lugares. “Animais não conseguem exercer seus comportamentos naturais e ter suas necessidades atendidas, pois esses lugares não proporcionam nem de perto a complexidade dos habitats naturais”, concorda o especialista.

Em São Paulo, um caso absurdo e recente é a compra de um urso-polar para o aquário. “O animal passa o dia repetindo o mesmo padrão comportamental, está em angústia permanente”, completa.

O habitat desse urso está nos ambientes naturais gelados da Rússia.  Já, aprisionado na capital paulista, é obrigado a viver solitário como atração, em um país tropical, dentro de um recinto  minúsculo para ele, que sequer tem luz natural.

Piores zoos do mundo

De acordo com a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) há mais de 10 mil zoológicos pelo mundo. A organização enfatiza que animais vivem muito menos quando enclausurados. Elefantes, por exemplo, vivem menos da metade do tempo do que os que estão livres na natureza.

Um estudo da da ONG Proteção Animal mostra também uma série de práticas abusivas com animais feitas em nestes lugares. “Dos 1.200 zoos e aquários visitados, a maioria vinculada à Associação Mundial de Zoológicos e Aquários (WAZA na sigla em inglês), que gosta de se diferenciar por sua política de bem-estar animal, na prática, não tem qualquer efeito positivo”, reforça João Almeida.

De acordo com o documento, 75% desses zoos têm interação animal-visitante. “Além de ser extremamente estressante para os animais, muitos são dopados para evitar comportamento natural agressivo. Dentre os péssimos do mundo, o mais próximo é o de Lujan, em Buenos Aires, Argentina. Este zoológico permite e vende uma série de interações diretas com os silvestres. Não visite”, aconselha.

João Almeida completa que zoológicos deveriam seguir padrões rígidos de bem-estar animal, conservação da biodiversidade e educação ambiental. Jamais ter foco em lucro, como vemos hoje na maioria dos lugares.

“Só deveriam ser permitidos lugares com projetos sérios de conservação da biodiversidade, focados na reprodução em cativeiro de espécies nativas ameaçadas de extinção”, finaliza.

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