Projetos sustentáveis enfrentam falta de recursos durante a pandemia. Mesmo à distância, todos podem colaborar
Fechados, inclusive, para balanço. Como parte do mundo, comunidades e projetos sustentáveis que vivem do turismo se reorganizaram a partir da covid-19. Alguns esperam ajuda. Outros recebem, seja por via pública ou privada. São muitas as variáveis em um dos primeiros setores a submergir na pandemia, e que provavelmente será um dos últimos a emergir.
Atuando na área de Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ) e Ubatuba (SP), o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) reúne aldeias indígenas e comunidades caiçaras e quilombolas. Durante a pandemia, o FCT luta para garantir o isolamento e o sustento nas unidades a que atende e apoia emergencialmente: 46 comunidades caiçaras, oito aldeias indígenas e sete quilombos:
— Há pressão de empresários do turismo para o retorno das comunidades à atividade. Elas estão resistindo com barreiras sanitárias e o apoio do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Rio de Janeiro — diz Marcela Cananéa, secretária-executiva do FCT.
Como sobreviver enquanto isso? De Norte a Sul, pequenos e médios projetos criam alternativas. Uma das ações da Fundação Tamar foi abrir uma loja virtual para venda de camisetas e afins. Cursos online são a saída da Comunidade Inkiri Piracanga, na Bahia. Campanhas de doação e ajuda de empresas e instituições são a esperança de povoados como a Praia do Sono, em Paraty, e a aldeia ribeirinha Três Unidos, na Amazônia.
Turistas podem colaborar mesmo à distância. Abaixo, listamos quatro exemplos de como apoiar comunidades tradicionais e projetos sustentáveis durante a pandemia.
PROJETO TAMAR
Foram três meses de suspensão de atividades nos seis centros de visitantes da Fundação Pró-Tamar (http://www.projetotamar.org.br/), organização que atua na conservação das tartarugas marinhas, via manejo, pesquisa e proteção. Não confundir a Pró-Tamar, administrada por uma entidade privada, com o Centro Tamar — ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente, que teve três bases encerradas no fim de maio de 2020.
Aos poucos, as unidades do Projeto Tamar começaram a reabrir: Florianópolis, Ubatuba, Vitória e Praia do Forte. Recentemente, foi a vez de Aracaju. Resta Fernando de Noronha, ainda fechada.
— Turismo é fundamental para a nossa atividade — lembra Gonzalo Rostan, gerente nacional do Centro de Visitantes da Pró-Tamar, acrescentando que a fundação segue com o patrocínio de apoiadores como a Petrobras, o maior deles. — Nossos recursos vêm principalmente dos centros de visitantes e das lojas. Tem coisa parada, mas tem coisa acontecendo também.
Como a loja virtual (https://www.lojatamar.org.br/), que foi inaugurada recentemente, e o Instagram da fundação (@Projeto_Tamar_Oficial), que oferece atividades como visitas virtuais e cursos online. Há ainda um programa de doações e de vendas antecipadas de ingressos para os centros.
VILA TRÊS UNIDOS, AMAZONAS
A Vila Três Unidos é exemplo de turismo de base comunitária. Localizada no Rio Cuieiras, afluente do Negro, a 60 quilômetros de Manaus, a aldeia vive, em tempos normais, da venda de artesanato e do aluguel de chalés para visitantes. Conta também com doações de empresas parceiras, o que, diante do isolamento, vem segurando seu sustento. Mas é pouco.
Para contornar a situação, a comunidade na Amazônia lançou campanha de doações e crowdfunding.
“Com casos de covid confirmados (nenhum deles fatal) e abandono do poder público, estamos em situação de risco”, dizem posts compartilhados por amigos no Instagram. Campanha de financiamento coletivo na rede Benfeitoria alcançou a meta, inicial, de R$ 5 mil.
— As doações em dinheiro ajudam a comprar alimentos, remédios, material de higiene e equipamentos de proteção individual, que chegarão à aldeia sem que ninguém tenha que ir a Manaus — relaciona Tomé Cruz, professor da escola municipal Três Unidos.
São 33 famílias da etnia kambeba. Pouco mais de cem pessoas. Para receber os turistas, vestem roupas tradicionais. Cantam. Dançam. E não se incomodam com os visitantes. Fora da pandemia, pareciam viver bem. A Vila Três Unidos faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro e abriga o Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Assy Manana, projeto com metodologia de ensino que alia educação formal a conhecimentos tradicionais.
Doações
Banco Bradesco
Agência: 3734-6
Conta corrente: 07423-3
CPF: 901.829.792-53
Contato: (92) 99322-1083
INSTITUTO INKIRI PIRACANGA, MARAÚ, BAHIA
Autoconhecimento, espiritualidade, artes, educação. Estes são alguns dos pilares do Instituto Inkiri, na Praia de Piracanga, Península de Maraú, Bahia. Criada a partir de uma ecovila, a estrutura acabou atraindo turistas em busca de autoaprendizado e descanso. Com a pandemia, a hospedagem e os retiros espirituais foram suspensos. Estas duas atividades se autofinanciavam, e garantiam também o investimento em ações de impacto socioambiental para a comunidade, como educação e agroflorestamento, entre outras.
— A receita caiu drasticamente, Além de reduzir gastos e diminuir o tamanho das equipes, migramos para os cursos online e estamos trabalhando com mais voluntários — conta Matheus Boscariol, responsável pela comunicação do Instituto Inkiri.
Hoje funcionam apenas o empório de alimentos e a loja de produtos biodegradáveis, que atendem aos moradores da vila. Mas o instituto manteve o apoio às comunidades do entorno e precisa de dinheiro. O projeto Impacto Inkiri arrecada doações para distribuir cestas de alimentos e material de higiene. Para colaborar acesse o site https://doe.inkiri.com/
PRAIA DO SONO, PARATY, RIO DE JANEIRO
Isolada, ela já é. Naturalmente. Para se chegar à Praia do Sono, canto paradisíaco de Paraty, é preciso fazer uma trilha leve de uma hora ou ir de barco, que sai do Condomínio Laranjeiras. Agora a comunidade de cerca de 430 pessoas (umas 75 famílias) está ainda mais sossegada e evitando a entrada de qualquer pessoa de fora. Mas a decisão de reabrir _ no dia 1º de outubro _ acaba de ser tomada.
— Criamos uma barreira na trilha, e quase toda a comunidade se reveza no bloqueio até seis da tarde — conta Leila Conceição, presidente da Associação de Moradores da Praia do Sono.
Superlotação, continua Leila, acontecia somente no réveillon. Mas a comunidade caiçara vivia principalmente do turismo, além da pesca e da roça.
— Ao menos não faltam alimentos. Temos peixe, banana, abacate e outras coisas que produzimos. E recebemos apoio do Fórum de Comunidades Tradicionais e da Prefeitura de Paraty, mas não é o suficiente. As cestas básicas não dão para todas as famílias — diz Leila.
A Praia do Sono é uma APA e uma reserva ecológica. Um projeto-piloto de saneamento ecológico foi implantado em 12 casas. Por falta de recursos, parou aí. Visitas a casas beneficiadas é uma das atividades do turismo de base comunitária que o lugar oferecia. Outras atrações: história, culinária, pesca, praias desertas, cachoeiras, trilhas, artesanato. Para hospedagem, há casas de aluguel, chalés, suítes em casa de moradores e camping.
FÓRUM DE COMUNIDADES TRADICIONAIS
O Sono não tem campanha de doação própria. Conta com o apoio do FCT, que criou a ação “Cuidar é resistir” (https://www.preservareresistir.org/fct-10) para arrecadar recursos. A campanha aceita também agasalhos, alimentos e produtos de higiene e limpeza. O fórum fez uma cartilha sobre a covid-19 (inclusive em guarani) e obteve receita através de editais para comprar produtos agroecológicos e pescado das comunidades assistidas. Uma via de mão dupla. A entidade tem apoio de Inea, Viva Rio, Sindipetro, Sesc e Ceasa. Mas…
— No começo, tínhamos a expectativa de que a pandemia ia durar dois meses – lembra Marcela Cananéa, do FCT, acrescentando que esse foi o tempo de duração dos benefícios ganhos com os editais – Para o segundo semestre, por enquanto, só temos mesmo os recursos da campanha de doações.
Doações
Banco do Brasil
Agência: 2406-6
Conta corrente: 50.034-8
CNPJ: 04.128.664/0001-91
Vamos ajudar?
3 comentários sobre “SOS Comunidades Tradicionais”
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