Segundo a ONU, o setor de turismo e viagens é uma das peças-chave para garantir o crescimento econômico sustentável e a proteção ambiental.
Uma série de ações e programas têm sido desenvolvidos por instituições governamentais e não-governamentais a fim de direcionar os caminhos para um mundo mais sustentável. A ONU, como representante maior dos interesses comuns de 193 países, tem trabalhado continuamente para delinear as metas e os objetivos para garantir esse planeta mais verde e igualitário – e, mais do que isso, cobrar uma participação ativa e consciente de líderes políticos e setores públicos e privados.
O documento base da ONU para nortear tais iniciativas é a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o plano internacional mais amplo para erradicar a pobreza extrema, reduzir as desigualdades sociais, garantir a inclusão e proteger o planeta. Fundamentado no respeito aos direitos humanos e dividido em 17 objetivos, ele é resultado de mais de 40 anos de diálogos e debates multilaterais para um entendimento preciso dos desafios do mundo.
Com o plano, a ONU pretende, até o ano de 2030:
- Erradicação da pobreza
- Fome zero e agricultura sustentável
- Saúde e bem-estar
- Educação de qualidade
- Igualdade de gênero
- Água limpa e saneamento
- Energia limpa e acessível
- Trabalho decente e crescimento econômico
- Indústria, inovação infraestrutura
- Redução das desigualdades
- Cidades e comunidades sustentáveis
- Consumo e produção responsáveis
- Ação contra a mudança global do clima
- Vida na água
- Vida terrestre
- Paz, justiça e instituições eficazes
- Parcerias e meios de implementação
O desenvolvimento consciente do setor turístico, com a adoção de práticas inteligentes de conservação, é essencial para alcançar ao menos seis das metas estipuladas. A começar pelo trabalho decente e crescimento econômico, já que o setor de viagens e turismo é um dos maiores empregadores do mundo, graças ao número significativo de atividades que engloba: hotéis, resorts, pousadas, hostels e campings; bares e restaurantes; transportes rodoviário, aéreo, férreo e serviços auxiliares de locomoção, como aluguel de carros; operadores e agências de viagens; aluguel de equipamentos, além de programas e eventos recreativos, culturais, esportivos etc.
Segundo a Agência Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor no país chegou a R$270,8 bilhões em 2019 – ou seja, 3,71% do PIB. No âmbito global, o World Travel & Tourism Council constatou que o turismo alcançou os US$ 8,9 trilhões e gerou 330 milhões de postos de emprego – 10.3% do total mundial ou 1 em cada 10 vagas de trabalho. O número de empregos é 1,7 vez maior do que o da mineração; 1,5 vez maior do que o dos bancos e da indústria automobilística e 1,4 vez maior do que o da agricultura.
Ao mesmo tempo em que o setor turístico impulsiona a economia, ele também pode provocar o chamado overtourism – ou excesso de turismo –, causando desequilíbrio ambiental, sobrecarga e aumento de preços de serviços de necessidades básicas e interferir na qualidade de vida dos residentes.
Soma-se aos efeitos colaterais do overtourism, o fato de que as cidades, apesar de ocuparem apenas 3% da superfície terrestre do planeta, são responsáveis por 60 a 80% do consumo de energia e por 75% das emissões de carbono.
Para driblar esses problemas, diversos centros urbanos têm investido no desenvolvimento de cidades e comunidades sustentáveis, com programas para incentivar o uso confiável de transporte público, a construção de vias seguras para bicicletas e caminhadas e de espaços acessíveis para recreação ao ar livre. Na lista das práticas urbanas de sustentabilidade também estão descarte adequado e reciclagem de lixo, acessibilidade de programas culturais e sociais a todos, prioridade do uso de recursos renováveis aos não renováveis e a construção de casas inteligentes, com consumo reduzido de energia.
O melhor entendimento da importância das medidas sustentáveis para a proteção ambiental e o futuro da humanidade abre espaço para a concretização de outros dois objetivos da Agenda 2030: o consumo e produção responsáveis e ações contra a mudança global do clima.
Com foco nessas três metas, Copenhague, na Dinamarca, pretende ser, até 2025, a primeira cidade neutra na emissão de CO2. Apenas 29% das famílias têm carro, já que a prioridade de deslocamento são as bicicletas. Os próprios hotéis da capital dinamarquesa oferecem bikes aos hóspedes. Amsterdã vem na sequência: além das tradicionais bicicletas, os meios de hospedagem estão priorizando a instalação de painéis solares e o cultivo próprio de alimentos.
Em Helsinki, na Finlândia, cerca de 75% dos quartos de hotel são certificados como ecologicamente corretos e os outros 25% têm algum tipo de plano ambiental em vigor. Reykjavik, na Islândia, pretende triplicar, até 2030, a frota de ônibus movidos a hidrogênio para eliminar as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a cidade tem incentivado o uso do carro elétrico a seus 9 mil funcionários públicos, oferecendo estacionamento gratuito e redução de impostos. Sydney, na Austrália, é a mais nova a entrar na lista de cidades sustentáveis. Em julho, ela finalizou o projeto de se tornar 100% abastecida por energias solar e eólica, incluindo a iluminação das ruas, estádios, piscinas e atrações turísticas.
Caminhando lado a lado com a sustentabilidade urbana, a proteção da vida na água e da vida terrestre são fundamentais no contexto dos 17 objetivos da ONU. E o turismo tem um peso ainda maior na responsabilidade de atuar em prol da natureza. A atividade turística depende primariamente da existência de diferentes ecossistemas e, por essa razão, tem a obrigação de desenvolver meios para a exploração consciente e a conservação ambiental. Está nas mãos do setor a participação na gestão sustentável de florestas, parques, rios e oceanos; no combate à desertificação e à degradação da Terra, e na proteção de animais marinhos e terrestres.
O primeiro passo é promover a educação ambiental, informando os viajantes dos impactos negativos do turismo na natureza – e como eles podem ser reduzidos. Ações como limpeza voluntária de praias, rios e lagos e reciclagem de lixo são atividades que favorecem a conscientização. O turismo também é ferramenta para financiar a proteção de áreas naturais a partir da arrecadação de taxas de entrada em parques, contribuições fiscais, impostos sobre vendas e taxas de licenciamento.
Seguindo essa linha, o Parque Nacional de Galápagos, no Equador, destina 70% do valor pago pelos visitantes para acesso ao parque para financiar a conservação da biodiversidade terrestre e marinha, beneficiar a comunidade local com melhorias de serviços básicos, elaborar projetos de educação, esportes, saúde e saneamento ambiental, e garantir serviços para o turista. Além disso, o parque regula estritamente o número de visitantes diários – 1.660 pessoas em barcos e 180 em cruzeiros – para reduzir o desgaste ambiental.
O Parque Nacional Kakadu, o maior da Austrália, realiza um trabalho intenso de preservação ambiental, cultural, arqueológica e étnica, uma vez que as suas terras estão sob a custódia de aborígenes. A região concentra a mais extensa variedade de ecossistemas do país, que é, ao mesmo tempo, uma das áreas menos impactadas pelo turismo. O Kakadu investe 39% da taxa de entrada para auxiliar os aborígenes locais, 27% para manutenção e melhorias em infraestrutura, 18% para as operações, 8% para a proteção da cultura e da biodiversidade e 8% para os salários dos guardas florestais e para programas culturais e educacionais.
Os parques e destinos turísticos, no entanto, não podem atuar isoladamente para atingir tais objetivos. A Agenda 2030 requer esforços em conjunto. Os líderes políticos, as organizações não-governamentais, a sociedade civil, os especialistas em desenvolvimento, o setor privado e o meio acadêmico devem se comprometer a atuar em parceria colaborativa para que o plano de ação saia do papel – especialmente no que diz respeito a medidas urgentes para combater a mudança climática e preservar a natureza.
O pontapé inicial para as transformações começa com as escolhas dos próprios viajantes. O turista consciente deve priorizar atitudes social e ambientalmente corretas para atuar em concordância com a conservação e o uso sustentável da natureza. Viagens de trem ou deslocamentos de bicicletas e transporte público em vez de aviões e carros para reduzir a emissão de CO2 no ar; atentar-se para a não degradação de corais; respeitar os animais; realizar apenas pesca autorizada; economizar na troca de toalhas em hotéis, e usar protetores solares sem substâncias que contaminem peixes e água são decisões simples, mas que fazem uma grande diferença. Com o comprometimento de todos, os progressos transformadores para um mundo melhor não serão impossíveis de alcançar.
Para mais informações sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, acesse os links
https://unric.org/pt/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/